É
O
Os
É
É
O
Os
É
O filme tem quase três horas de duração, e quando acabou saí do cinema e já tinha saudades dos personagens... aquela sensação estranha de “talvez não nos vejamos nunca mais” (o que garante que um filme egípcio, por mais cara que seja a sua produção, tenha versão em DVD???).
Tudo é delicioso em L’Immeuble Yacoubian, e mesmo a maldade não dói como as outras, de outros filmes. O homem é corrupto, rico numa sociedade de pobres, faz acordos com japoneses (que no filme parece ser uma coisa um tanto suspeita!), tem filhos gordos e uma família que vive de aparências, mas cheguei a me afeiçoar a ele quando da sua busca por uma segunda esposa, e compreendi o seu desejo de ter alguém que ainda o quisesse como o homem que a sua primeira mulher rejeitava.
Depois ele acaba por exagerar na dose de pequenas maldades... e mesmo assim, não chegas nunca a odiá-lo.
Aliás, talvez seja isto: nenhum personagem do filme provoca raiva ou ódio. Há alguns que são talmente humanos que chegam a ser repugnantes, nojentos mesmo, mas não muito mais do que isso...
E depois há o filho do pachá... interpretado pelo ator egípcio Adel Imam, que não é exatamente bonito - saí do cinema absolutamente caída de amores por ele! Me permitirei uma frase romântica que poderia ser proferida por minha bisavó: “não se fazem mais homens como antigamente!!!!” (suspiros...).
Frase do filho do pachá, um homem com cerca de 65 anos de idade: “todas as mulheres que eu tive foram felizes, mesmo as que vieram por dinheiros eu nunca as obriguei a nada que não quisessem fazer”... e depois “la vie en rose” num hotel de luxo com decoração decadente no Cairo...
Morreu hoje Pieter Willelm Botha. Li a notícia de sua morte com espanto – como pode um homem que fez tanta gente sofrer ter o prazer de morrer dormindo?
Botha nasceu no Estado Livre de Orange, a 12 de janeiro de 1916, e foi um dos homens políticos mais importantes do apartheid sul-africano: desempenhou a função de Ministro da Defesa por 14 anos – de
Sua carreira política esteve sempre vinculada a defesa da segregação racial, com o intuito maior de proteger as liberdades e os direitos da população afrikaner a qual pertencia.
Foi ele também quem comandou a coluna do exército sul-africano que pretendia impedir o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) de declarar a independência de Angola, em Luanda, apoiado pelo governo norte-americano de Gerald Ford, então preocupado com a extensão da influência soviética na região. No entanto, a ajuda cubana e soviética ao MPLA frearam as tropas de Botha antes que alcançassem a capital.
Em dezembro de 1975, o congresso norte-americano publica uma emenda que retira a ajuda financeira aos oponentes do MPLA angolano. Botha é obrigado a recuar, mas continua apoiando logisticamente, pelo menos até a década de
A ONU impõe embargos comerciais a África do Sul em 1977, mas, sob o comando de Botha, em
Botha manteve até seus últimos dias a firme disposição de defender a política do apartheid, e foi crítico feroz das mudanças políticas impostas a partir da liberação de Mandela e da realização das primeiras eleições, em 1994, em que este último foi eleito presidente.
Após terminar esta curta reflexão, concluí que talvez não teria tido pior castigo para um “velho crocodilo” do que ver gazelas passar a sua frente e não poder comê-las...
A exposição “Scrapbook”, com fotos tiradas e colecionadas por Henri Cartier-Bresson, entre os anos 1932 e 1946, num livro em forma de diário, é a “cereja do bolo” para os amantes da fotografia, e mais especificamente do fotojornalismo fundado pela geração de HCB e da Agence Magnum.
Prostitutas nos confins do México, enquadradas nas suas pequenas “janelas de trabalho”, ou o flagrante do reconhecimento de uma funcionária da Gestapo após a Liberação, tudo é lá e aqui no olhar de Bresson. Marseille, Paris, Itália, Espanha, México, Londres, Alemanha... gente de um mundo que o seu olhar questiona e nos descortina.
Pode ser agradável, ou não...
« La photo c’est une coupe au couteau » (HBC)
Ledo engano... a aristocracia cubana é que estava do lado do bem – e como é óbvio, o que eles chamam de “fidelismo”, o mau. O povo só aparece como o vilão que vai as ruas apoiar a revolução, e destruir a “cultura” até então produzida.
Andy Gacia e sua amada – sempre linda em belos vestidos – correm para a praia em busca de algum sossego! Mas ela o trai, adere a revolução. Os revolucionários aparecem como barbados patéticos, que no dia seguinte a tomada do poder, além de matar um monte de bonzinhos, se preocupam em proibir o uso do saxofone e em fechar o cabaré do mocinho Andy Garcia... que maus que eles são! Ah, e tudo isso entre um copo de champagne e outro, pois não há nada que os revolucionários gostem mais do que de champagne...
Para quem ficou com pena do Andy Garcia – ele vai para Nova Iorque, trabalha como lavador de pratos, mas, como ele é muito talentoso, o letreiro final nos informa que ele abriu um hotel Trópico que fez enorme sucesso. Viva Cuba Libre!
Não vale nem como diversão... é só para se irritar, e ter uma crise de úlcera com as manipulações do tempo e da história.
Fomos hoje ao Espace St Michel, cinema em que está passando o filme Antonio das Mortes, de Glauber Rocha, realizado em 1969.
Claro que sabemos que não se vê Glauber Rocha impunemente, que vai mexer... e mexeu, muito. A atualidade do filme é espantosa, especialmente na transição que os personagens fazem do “bem” para o “mal”, e vice-versa. No terreno árido dos poderes e reivindicações não há maniqueísmos, todos passeiam, ao longo da vida, pelos dois lados.
Artes primeiras ou primárias?
Segundo o Dicionário Houaiss, primeira:“inicial, que vem antes de outras”, mas também “que está no seu estado de origem, original, primitivo” ops! É do primitivo que deriva tanto “contemporâneo dos primeiros tempos de uma civilização, colonização, existente nos primeiros tempos da Terra, anterior a qualquer civilização, e a tudo quanto pareça próprio desses tempos (diz-se das características, dos hábitos, da vida humana)”, quanto “cuja economia e técnica são notavelmente inferiores em relação às das grandes civilizações (diz-se de povos atuais), que não evoluiu, não se aperfeiçoou; antiquado, arcaico, atrasado”.
Da publicação “Arts et Spetacles”, No 35, abril de 1999:
“Outra novidade nesse domínio é a abertura de uma secção de artes “premiers” no Louvre. Desde dezembro de
Que o Louvre não é, e não pretende ser, um museu "para todos os homens", nós percebemos quando o visitamos. Mas porque então eles não abrem mão da coleção "Egito" em prol do Musée du Quai Branly? Pelo menos o dicurso se ajustaria à geografia...
(a tradução macarrônica é de minha autoria... para quem quiser ler o original, clique aqui).
06 de agosto de 2006 - 1o domingo do mês, quando todos os museus de Paris têm entrada gratuita, acordei cedo para enfrentar a fila do Quai Branly. O museu - considerado por muitos como a grande obra do governo de Jacques Chirac - teve seu trabalho de construção iniciado em outubro de 2001, e foi inaugurado em 23 de junho de 2006.
Nasceu predestinado, nas palavras do presidente da república, a "dar às artes da África, das Américas e da Ásia seu justo lugar nas instituições museológicas da França". Ou seja, tudo o que é produzido fora da Europa...
Na verdade, o acervo do Quai Branly é composto das coleções do finado Musée des Arts d’Afrique et d’Océanie – que já havia sido Musée des Colonies -, e do laboratório de etnologia do Museu do Homem.
Levei 4 horas para ver 2/3 da área dedica a “Afrique”. O acervo está organizado, primeiramente, em ordem “geográfica”, o que significa dizer que a procedência das peças está referenciada segundo as fronteiras atuais do continente; secundariamente pelo “tema” que representam – religioso, bélico, de sacríficio, ornamento, etc...; depois, por temas menores que levam aos grupos populacionais; e a ordem cronólogica, que por vezes indica a data de sua feitura e, por outras, a da sua recolha pelos europeus.
Sou historiadora, e essa coisa das datas fez-me enorme confusão – como colocar dois objetos juntos, quando um foi produzido no século XIII e outro no XX? Isso seria possível de ser feito se se tratasse de arte européia? Fica a pergunta, para pensarmos....