11.01.2006

O fim do “Grande Crocodilo”



Morreu hoje Pieter Willelm Botha. Li a notícia de sua morte com espanto – como pode um homem que fez tanta gente sofrer ter o prazer de morrer dormindo?

Botha nasceu no Estado Livre de Orange, a 12 de janeiro de 1916, e foi um dos homens políticos mais importantes do apartheid sul-africano: desempenhou a função de Ministro da Defesa por 14 anos – de 1966 a 1980; de primeiro-ministro, de 1978 a 1984; e de presidente da república, de 1984 a 1989, quando foi obrigado a se demitir para dar lugar a Frederik de Klerk, o homem do Partido Nacional que liberou Nelson Mandela (e de quem Mandela teve que apertar a mão...).

Sua carreira política esteve sempre vinculada a defesa da segregação racial, com o intuito maior de proteger as liberdades e os direitos da população afrikaner a qual pertencia.

Foi ele também quem comandou a coluna do exército sul-africano que pretendia impedir o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) de declarar a independência de Angola, em Luanda, apoiado pelo governo norte-americano de Gerald Ford, então preocupado com a extensão da influência soviética na região. No entanto, a ajuda cubana e soviética ao MPLA frearam as tropas de Botha antes que alcançassem a capital.

Em dezembro de 1975, o congresso norte-americano publica uma emenda que retira a ajuda financeira aos oponentes do MPLA angolano. Botha é obrigado a recuar, mas continua apoiando logisticamente, pelo menos até a década de 1980, a UNITA, movimento opositor ao governo angolano.

A ONU impõe embargos comerciais a África do Sul em 1977, mas, sob o comando de Botha, em 1978 o país aparece como o 11º principal fabricante de armas do mundo, e dispõe de sua primeira bomba atômica em 1979.

Botha manteve até seus últimos dias a firme disposição de defender a política do apartheid, e foi crítico feroz das mudanças políticas impostas a partir da liberação de Mandela e da realização das primeiras eleições, em 1994, em que este último foi eleito presidente.

Após terminar esta curta reflexão, concluí que talvez não teria tido pior castigo para um “velho crocodilo” do que ver gazelas passar a sua frente e não poder comê-las...

Um comentário:

Anônimo disse...

Kelly, gostaríamos de publicar este artigo na seção de Notícias do novo site da Casa das Áfricas que deve ir ao ar em novembro. Aguardo autorização.