8.24.2006

Paris no detalhe, ou não...



Depois de quase sete longos meses em Paris, jamais havia feito programas turísticos agindo como turista... mas, de repente, ao levar minha mãe aos lugares mais visitados da cidade mais visitada, passei a ver coisas que não havia notado - a beleza do torre eifel vista de baixo, o sena na contra-luz, a estátua do De Gaulle no Grand Palais, e a do Churchil logo dobrando a esquina, a vastidão do jardin de tuileries. e aí saquei a minha máquina fotográfica, e comecei a disparar em todas as direções! agora tenho também meu olhar de turista em paris... e a cidade é bonita.

HaHaHa



num parque de diversões, no Jardin de Tuileries... talvez esteja politicamente desatualizado, mas é engraçado na mesma...

8.21.2006

Mamãe em Paris...

Xi... olha a regressão batendo! mas é isso mesmo, minha mãe chegou a Paris para me visitar, e eu estou feliz como o quê! talvez até escreva menos por esses dias - já fomos a St Michel comer crepe, passeamos na Rue St Andre des Arts, entramos nas igrejas St Sevrin e Notre Dame (haja "3 pedidos"!!! será que é cumulativo?!?), e hoje fomos andar pelo Marais, George Pompidou, Place Stravinsky... tudo de bom!
Quem quiser vir... venha!!!

8.19.2006

Salut Cuba

O título é uma alusão ao filme “Adieu Cuba”, produzido e estrelado por Andy Garcia. Tudo começa na sala de bailes e espetáculos de um grande hotel – sempre chamado Trópicos, ou qualquer coisa que o valha -, com montes de belas muheres bem vestidas e homens engravatados. No palco, um show que mesclava salsa, rumba, cha cha cha, candomblé, e todos os outros estereótipos da cultura das ilhas tropicais. Acontece um diálogo que dá a entender que o dono do lugar “se serve” de uma dançarina por dia. Depois, uma reunião de família, no escritório do mesmo hotel, para discutir a presença e a união dos seus mebros “aconteça o que acontecer” em Cuba. Há uma voz dissidente, um dos irmãos desrespeita a instituição paterna e defende a revolução... um amigo comentou comigo depois: “achei que aqueles fossem os bandidos”... e talvez o irmão desgarrado o mocinho.

Ledo engano... a aristocracia cubana é que estava do lado do bem – e como é óbvio, o que eles chamam de “fidelismo”, o mau. O povo só aparece como o vilão que vai as ruas apoiar a revolução, e destruir a “cultura” até então produzida.

Andy Gacia e sua amada – sempre linda em belos vestidos – correm para a praia em busca de algum sossego! Mas ela o trai, adere a revolução. Os revolucionários aparecem como barbados patéticos, que no dia seguinte a tomada do poder, além de matar um monte de bonzinhos, se preocupam em proibir o uso do saxofone e em fechar o cabaré do mocinho Andy Garcia... que maus que eles são! Ah, e tudo isso entre um copo de champagne e outro, pois não há nada que os revolucionários gostem mais do que de champagne...

Para quem ficou com pena do Andy Garcia – ele vai para Nova Iorque, trabalha como lavador de pratos, mas, como ele é muito talentoso, o letreiro final nos informa que ele abriu um hotel Trópico que fez enorme sucesso. Viva Cuba Libre!

Não vale nem como diversão... é só para se irritar, e ter uma crise de úlcera com as manipulações do tempo e da história.

P.S.: a melhor parte do filme, fica por conta de, vez ou outra, escutarmos a voz do cantor Bola de Nieve...

8.13.2006

Antonio das Mortes

Fomos hoje ao Espace St Michel, cinema em que está passando o filme Antonio das Mortes, de Glauber Rocha, realizado em 1969.

Claro que sabemos que não se vê Glauber Rocha impunemente, que vai mexer... e mexeu, muito. A atualidade do filme é espantosa, especialmente na transição que os personagens fazem do “bem” para o “mal”, e vice-versa. No terreno árido dos poderes e reivindicações não há maniqueísmos, todos passeiam, ao longo da vida, pelos dois lados.

E aonde estará o verdadeiro dragão?

8.09.2006

Artes Primeiras ou Primárias?











Artes primeiras ou primárias?
Segundo o Dicionário Houaiss, primeira:“inicial, que vem antes de outras”, mas também “que está no seu estado de origem, original, primitivo” ops! É do primitivo que deriva tanto contemporâneo dos primeiros tempos de uma civilização, colonização, existente nos primeiros tempos da Terra, anterior a qualquer civilização, e a tudo quanto pareça próprio desses tempos (diz-se das características, dos hábitos, da vida humana)”, quanto “cuja economia e técnica são notavelmente inferiores em relação às das grandes civilizações (diz-se de povos atuais), que não evoluiu, não se aperfeiçoou; antiquado, arcaico, atrasado”.

Da publicação “Arts et Spetacles”, No 35, abril de 1999:

“Outra novidade nesse domínio é a abertura de uma secção de artes “premiers” no Louvre. Desde dezembro de 1999, uma sala do Museu do Louvre acolherá uma centena de obras “carros-chefe” do “primitivismo”: máscara bamiléké, cabeça da Ilha de Páscoa, serpente em plumas azteca... É uma verdadeira revolução na museologia francesa, que se tem colocado desde muito tempo contra a equivalência da arte ocidental em relação às peças advindas de civilizações orais e “a-históricas”. Para os especialistas destas últimas, a criação de uma secção de artes “premiers” permitirá ao Louvre encontrar enfim “sua vocação primeira, aquela que tinha sido fixada quando da sua fundação, em 1791: ser um museu para todos os homens”.
Que o Louvre não é, e não pretende ser, um museu "para todos os homens", nós percebemos quando o visitamos. Mas porque então eles não abrem mão da coleção "Egito" em prol do Musée du Quai Branly? Pelo menos o dicurso se ajustaria à geografia...
(a tradução macarrônica é de minha autoria... para quem quiser ler o original, clique aqui).

O deserto, a dor e o boi

"Não espanta o gado a palavra
quando é boa
nem apodrece
quando exposta ao tempo...

Herdei-a sozinha
não a como assim:

o dar não molesta o braço
nem dorme com espinho a mão
que afagou durante o dia"

(Ruy Duarte de Carvalho. "Derivações, Nyaneka (22)", Da Lavra Alheia I em: LAVRA. POESIA REUNIDA. 1970/2000)

Visita ao Musée du Quai Branly - II

Em alguns casos, o Museu parece ter sido inaugurado antes de ser finalizado - há peças em que a numeração não corresponde com a legenda; ausência de peças que estão indicadas na legenda; e as legendas de identificação estão somente em francês, o que talvez não tivesse problema se não se tratasse de Paris, a cidade do mundo mais visitada por turistas.

Das placas de identificação consta um dado muito interessante de ser observado: o "doador" da obra. Há coisas maravilhosas e inacreditáveis, como o caso de uma estátua feminina Mossi doada por Helena Rubinstein, ou ainda os frutos das expedições de Marcel Griaule, entre elas a célebre Dakar-Djibouti (1931-1933), da qual também participou Michel Leiris.
Somente essa enorme generosidade poderia dar um estudo interessante...


Foto: Marcel Griaule e um Dogon

8.08.2006

Visita ao Musée du Quai Branly - I



06 de agosto de 2006 - 1o domingo do mês, quando todos os museus de Paris têm entrada gratuita, acordei cedo para enfrentar a fila do Quai Branly. O museu - considerado por muitos como a grande obra do governo de Jacques Chirac - teve seu trabalho de construção iniciado em outubro de 2001, e foi inaugurado em 23 de junho de 2006.
Nasceu predestinado, nas palavras do presidente da república, a "dar às artes da África, das Américas e da Ásia seu justo lugar nas instituições museológicas da França". Ou seja, tudo o que é produzido fora da Europa...
Na verdade, o acervo do Quai Branly é composto das coleções do finado Musée des Arts d’Afrique et d’Océanie – que já havia sido Musée des Colonies -, e do laboratório de etnologia do Museu do Homem.

Levei 4 horas para ver 2/3 da área dedica a “Afrique”. O acervo está organizado, primeiramente, em ordem “geográfica”, o que significa dizer que a procedência das peças está referenciada segundo as fronteiras atuais do continente; secundariamente pelo “tema” que representam – religioso, bélico, de sacríficio, ornamento, etc...; depois, por temas menores que levam aos grupos populacionais; e a ordem cronólogica, que por vezes indica a data de sua feitura e, por outras, a da sua recolha pelos europeus.

Sou historiadora, e essa coisa das datas fez-me enorme confusão – como colocar dois objetos juntos, quando um foi produzido no século XIII e outro no XX? Isso seria possível de ser feito se se tratasse de arte européia? Fica a pergunta, para pensarmos....

Paulo Kapela - o profeta de África


Tinha lido um texto sobre Paulo Kapela na Revue Noire - o No 29, dedicado a Angola. Pelo texto de N'Goné Fall, fiquei com a impressão de que Kapela era um grande artista, descoberto tardiamente. De fato, ele é um grande artista, mas não só... ele é um profeta, se auto-denomina assim, inclusive.
Fui lhe fazer uma visita, em setembro de 2003, quando recém-chegada a Luanda. Encontrei um homem forte, grande, e com semblante de criança. Quase não fala português, e entabulamos a conversa em algo que se assemelhava ao francês.
Disse-lhe que queria ver o que ele produzia - ele me mostrou, antes de tudo, uma vassoura e um balde... disse-me que era faxineiro da União dos Artistas Angolanos (UNAP), e que queria posar para minhas fotos em tal qualidade. Fiz as fotos...
Depois, conduziu-me pelos escombros do prédio da UNAP, um casarão na baixa de Luanda, com pé direito altíssimo e em tal estado de degradação que a mim não parecia ser possível que ele conseguisse limpar aquilo nem se tivesse 50 anos mais.
Separados os cômodos por panos armados em cortinas, iam aparecendo as profecias de Kapela. Em tudo aquilo se assemelhava a um local de culto - com altares, figuras de mortos, e de mortos-vivos também, como os heróis, esses zumbis que nos perseguem.
Não sei quantas horas estive na companhia do profeta Paulo - com o mesmo nome do Papa na altura -, mas para mim pareceu uma longa viagem. Ao fim, ele me ofereceu para comprar uns cartões com algumas pinturas suas, bastante "comerciáveis", em nada parecido com o que me havia mostrado até então. Comprei-os...

Se o problema é nosso, é porque estamos com ele


Ou, no original, como se fala em Angola: "Se é a problema ki xtamus ku ele, vamos fazer mais como, então?"
Nem conformismo, nem lamento, mas contastação. Talvez seja mesmo bom partir do princípio - admitir que o problema existe, que o temos e que estamos com ele. Depois nos desembaraçamos... ou espera-se que sim. Mas aí, já são outras histórias...