11.28.2006

para bom entendedor... uma letra de música basta




Vai meu irmão/ Pegue esse avião/ Você tem razão/ de correr assim/ Desse frio mas veja/
O meu Rio de Janeiro/ Antes que um aventureiro lance mão/ Pede perdão/ pela duração/ dessa temporada/ Mas não diga nada/ que me viu chorando/E pros da pesada/ diz que eu vou levando/ Vê como é que anda/ aquela vida à toa/ E se puder me manda/uma notícia boa
(música da semana: "samba de orly", chico buarque)

11.20.2006

L'Immeuble Yacoubian


O filme tem quase três horas de duração, e quando acabou saí do cinema e já tinha saudades dos personagens... aquela sensação estranha de “talvez não nos vejamos nunca mais” (o que garante que um filme egípcio, por mais cara que seja a sua produção, tenha versão em DVD???).

Tudo é delicioso em L’Immeuble Yacoubian, e mesmo a maldade não dói como as outras, de outros filmes. O homem é corrupto, rico numa sociedade de pobres, faz acordos com japoneses (que no filme parece ser uma coisa um tanto suspeita!), tem filhos gordos e uma família que vive de aparências, mas cheguei a me afeiçoar a ele quando da sua busca por uma segunda esposa, e compreendi o seu desejo de ter alguém que ainda o quisesse como o homem que a sua primeira mulher rejeitava.

Depois ele acaba por exagerar na dose de pequenas maldades... e mesmo assim, não chegas nunca a odiá-lo.

Aliás, talvez seja isto: nenhum personagem do filme provoca raiva ou ódio. Há alguns que são talmente humanos que chegam a ser repugnantes, nojentos mesmo, mas não muito mais do que isso...

E depois há o filho do pachá... interpretado pelo ator egípcio Adel Imam, que não é exatamente bonito - saí do cinema absolutamente caída de amores por ele! Me permitirei uma frase romântica que poderia ser proferida por minha bisavó: “não se fazem mais homens como antigamente!!!!” (suspiros...).

Frase do filho do pachá, um homem com cerca de 65 anos de idade: “todas as mulheres que eu tive foram felizes, mesmo as que vieram por dinheiros eu nunca as obriguei a nada que não quisessem fazer”... e depois “la vie en rose” num hotel de luxo com decoração decadente no Cairo...

Que maravilha! Não percam! E depois, reparem no sorriso do senhor... é daqueles de sorrir junto... (mais suspiros).

11.01.2006

O fim do “Grande Crocodilo”



Morreu hoje Pieter Willelm Botha. Li a notícia de sua morte com espanto – como pode um homem que fez tanta gente sofrer ter o prazer de morrer dormindo?

Botha nasceu no Estado Livre de Orange, a 12 de janeiro de 1916, e foi um dos homens políticos mais importantes do apartheid sul-africano: desempenhou a função de Ministro da Defesa por 14 anos – de 1966 a 1980; de primeiro-ministro, de 1978 a 1984; e de presidente da república, de 1984 a 1989, quando foi obrigado a se demitir para dar lugar a Frederik de Klerk, o homem do Partido Nacional que liberou Nelson Mandela (e de quem Mandela teve que apertar a mão...).

Sua carreira política esteve sempre vinculada a defesa da segregação racial, com o intuito maior de proteger as liberdades e os direitos da população afrikaner a qual pertencia.

Foi ele também quem comandou a coluna do exército sul-africano que pretendia impedir o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) de declarar a independência de Angola, em Luanda, apoiado pelo governo norte-americano de Gerald Ford, então preocupado com a extensão da influência soviética na região. No entanto, a ajuda cubana e soviética ao MPLA frearam as tropas de Botha antes que alcançassem a capital.

Em dezembro de 1975, o congresso norte-americano publica uma emenda que retira a ajuda financeira aos oponentes do MPLA angolano. Botha é obrigado a recuar, mas continua apoiando logisticamente, pelo menos até a década de 1980, a UNITA, movimento opositor ao governo angolano.

A ONU impõe embargos comerciais a África do Sul em 1977, mas, sob o comando de Botha, em 1978 o país aparece como o 11º principal fabricante de armas do mundo, e dispõe de sua primeira bomba atômica em 1979.

Botha manteve até seus últimos dias a firme disposição de defender a política do apartheid, e foi crítico feroz das mudanças políticas impostas a partir da liberação de Mandela e da realização das primeiras eleições, em 1994, em que este último foi eleito presidente.

Após terminar esta curta reflexão, concluí que talvez não teria tido pior castigo para um “velho crocodilo” do que ver gazelas passar a sua frente e não poder comê-las...