1.16.2007

Paulo Flores e a música angolana

Depois de muito tempo, talvez dois anos, ouvi outra vez o disco ao vivo de Paulo Flores, músico angolano, que foi gravado a 5, 6 e 7 de maio de 2004, no Cine Teatro Karl Marx, em Luanda, Angola.

Por motivos absolutamente pessoais, olhava o disco na pilha de Cd’s e sentia receio das emoções que ele poderia me causar. Hoje descobri que posso ouvi-lo, as feridas cicatrizaram.

E o disco é bom, “é muita bom”, como se diz em Angola. Me diverti muito com o refrão de Garina: Meu nome é Maria, como é o seu? Eu moro na Ilha, na casa do Tadeu”.

Depois, me emcionei, como sempre acontece, ao ouvir Paulo Flores interpretar Belina, de Arthur Nunes, em quimbundo, como no original: “Belina Tua Kifikideto/ Um Tuala Muené/ O Nguma ge Kukala Kia Kumuxima”.

Arthur Nunes, um dos grandes compositores angolanos, foi morto depois de ser acusado de envolvimento na tentativa de golpe de Estado conduzida por Nito Alves, a 27 de maio de 1977. Um dos talvez 45.000 mortos que o contra-golpe fez.

E a influência brasileira, ou até latino-americana, se faz sentir em Menino Destino: “Dá-me da tua mão o meu destino, faz-me o tempo chegar correndo a passo/ traz-me no teu abraço o reconforto, bicho solto”, com um quê de Clube de Esquina... Para não falar do violoncelo de Jaques Morelenbaum, e do lindo ensaio de voz em tom gospel de Dodô Miranda.

Por último, Tito Paris em Falso Testemunho, com a sua voz (e o seu assovio!) inconfundível. E me fez lembrar do primeiro dia em que pisei em Luanda. A 8 de setembro de 2003, tive o privilégio de comer uma cachupa feita por Tito Paris, acompanhada de lições de criolo. Me lembro dele dizer, em tom quase maroto: “se souberes que bó é você, e nha é meu/minha, podes falar criolo”. em Clarice: Mesmo que bó tá longe, bó tá perto/ Cretcheu ó luz di nha vida. Quanta bondade do Tito!

Nada como estar bem com o passado, e poder desfrutar dessas coisas da Angola que tanta falta me faz.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei o texto!

Escrito de modo simples mas, verdadeiro. Ivejo-a muito agora
que sei que conviveu com Tito.

Abraços,


Martinho Bangula
Admirador de P.Flores e T.Paris