11.17.2010

Saldo do feriado


Com dona Sofiinha se recuperando de uma sinusite e um inverno cruel fora de época, tivemos que reinventar o tempo.
Saquei da manga coisas tão prosaicas como fazer bolinhos de chuva e montar instalações de arte com caixas de papelão e recortes de revista.
Mas, quando a petite ia dormir - ela dorme cedo, por volta de 20h00 - eu me deliciei colocando dois anos de atraso filmográfico em dia. Três filmes, por ordem do que "mais gostei":
O segredo dos teus olhos: desta vez Campanella não me fez chorar, como em O Filho da Noiva, mas está me fazendo pensar até agora sobre os limites que podem atingir a dor. Darin firmou-se no meu pequeno panteão de atores amados. O drama central, que entrelaça a vida de um burocrata da polícia aposentado e um funcionário de banco mediano pode parecer insólito, ainda mais quando dizemos que o que os uniu foi o estupro seguido de morte da esposa do bancário. O roteiro é comum, dito isto parece-se com qualquer seriado norte-americano. O que recheia o filme é a abordagem dos dramas humanos, as dores das perdas, das coisas não feitas, do alcance da justiça. Coisas banais sobre as quais pensamos, em uma ou outra, em maior ou menor grau, quase todos os dias. Para mim, é nisso que consiste a beleza do bom cinema: tratar como incrível coisas já tidas como corriqueiras, e nos por outra vez a pensar sobre elas.
Soul Kitchen, do Fath Akin, o mesmo diretor de "De l'autre coté" (não sei como foi traduzido para o português) filme dramático com enredo enrolado mas final surpreendente, daqueles que depois de muitas reviravoltas você acaba por entender tudo, ou quase tudo, na última cena. Fatih Akin é de origem turca, e em De l'autre coté ele explora a questão da migração para a Europa ocidental.
Em Soul Kitchen vi outra vez essa mesma forma de contar a história, a imprevisibilidade da cena posterior, só que desta vez em forma de tragicomédia. E foi retomada, ainda que de forma um pouco mais marginal, o modus vivendi dos migrantes na Alemanha. Não sei bem o porquê, mas esse filme lembrou-me muito o Jackie Brown, do Tarantino, talvez fosse a trilha sonora, as embrulhadas com dinheiro.
Por último, A Ilha do Medo. Não vou fazer comentários sobre a atuação de DiCaprio, que nem achei assim tão ruim nesse filme. Mas, com aquela produção e a direção do Scorsese uma atuação razoável é o suficiente, né? O enredo é interessante, embora ache que foi pouco explorada as paranóias que o início da guerra fria causou nos Estados Unidos e os vários casos de insanidade daí decorrentes... como o pouquíssimo comentado suicídio do secretário de Estado da Marinha do presidente Truman, James Forrestal, que via a chegada dos russos através da janela do hospital.
Mas bom, não sou favorável a crítica sobre o que poderia ter sido feito. O que foi feito está bem, é divertido, passa o tempo, mas não faz pensar.

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