11.22.2010

Com toda essa repercussão sobre a Cimeira de Lisboa da NATO, e a consequente reflexão sobre o papel de Portugal numa aventura militar – para não dizer atoleiro militar – como essa, é que surge a hipótese de quererem chamar à cena os protagonistas do imperialismo que terminou com as descolonizações das décadas de 1950/60/70 do século XX.

A prova mais contundente disso é a declaração, em 2008, da então vice-comandante da AFRICOM para questões civis-militares, Mary Carlin Yates, quando da sua visita a Lisboa para reuniões com alto-escalão da hierarquia militar:

«é muito importante que ouçamos e aprendamos com os nossos parceiros europeus, especialmente uma nação como Portugal com uma história naquele continente que penso terá muitas lições a ensinar-nos».

Sobre quais lições falará Mary Yates? A de como se atolar em uma guerra longe de casa – como a guerra colonial em África, que custou a cabeça da moribunda ditadura salazarista – os EUA já a conhece muito bem.

Não é preciso pensar muito para concluir que um dos grandes motivos para a abertura de mais essa frente é a velha busca por energia. Sendo os EUA o maior consumidor mundial de petróleo em proporção em relação à população: consomem cerca de 21% do total da produção para uma população que perfaz 5%.; e atualmente importam 57% do que consomem. Uma vez que a peninsula arábica tem mostrado algum declínio em sua produção de petróleo nos últimos anos, faz-se urgente diversificar as fontes e uma tentadora possibilidade, já provada pela China, está na África Ocidental.

Daí passemos a atuação do AFRICOM: há na organização um braço importante, a AMLEP, African Maritime Law Enforcement Partnership, cujo objetivo formal é « auxiliar nossos parceiros africanos a desenvolver capacidade de segurança» marítima. O discurso do Comandante do AFRICOM, General William «Kip» Ward, chama à cena àquele feito pelo presidente Barack Obama quando da sua visita ao Ghana, em julho de 2009, ocasião em que especificou as cinco áreas priorotários que os EUA poderiam contribuir para a construção « do futuro na África»: democracia; conjuntura favorável; saúde; pacífica resolução de conflitos e enfrentamento dos desafios internacionais.

Sinceramente, não consigo ver coerência entre os cinco pontos citados, a mim parece que há a ambiguidade norte-americana entre o discurso pela paz e os meios bélicos para estabelece-la...

No entanto, a AMLEP foi criada tendo em vista o combate ao terrorismo nos mares – que como é sabido pelo senso comum concentra-se primordialmente no chamado Chifre da África, mais exatamente entre o Mar Vermelho e o Golfo de Aden... ali em frente à Península Arábica...

É igualmente menccionada a questão do combate ao tráfico de drogas, que poderia ser levado a cabo em qualquer oceano do globo terrestre. Para além dos argumentos, constata-se que os dois acordos da AMLEP foram assinados com Cabo-Verde e Serra Leoa tendo em vista, pasmem, o combate à pesca ilegal - mas, o que se vê na cartografia é que há uma descida em direção ao Golfo da Guiné, onde sabidamente há petróleo (e que valeu uma visita da secretaria de Estado norte-americana, Hillary Clinton, ao até então pouco comentado arquipélago de São Tomé e Príncipe, após o anúncio das descobertas de petróleo nas Ilhas). E, como diria uma grande amiga, petróleo não conhece fronteira...

Vou encerrar esse post chamando atenção para o fato de que o comandante do AFRICOM, Ward, esteve à frente as Operações Especiais da NATO durante a Guerra da Bósnia, aquela em que bombardearam Sarajevo... começamos e terminamos com a NATO, seus interesses e desmandos. Será somente uma teoria da conspiração?

Voltarei ainda a falar, provavelmente muito, sobre o AFRICOM, minha mais nova obsessão.

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