11.30.2010

O pragmatismo selvagem da política externa chinesa


A expressão pragmatismo selvagem foi dita pelo meu querido e saudoso amigo Ruy Duarte de Carvalho, aplicada ao contexto angolano. Mas, ao ler hoje as últimas revelações feitas pelo cablegate provocado pelo Wikileaks não me ocorria outra coisa em relação a China: segundo os documentos ela não só estaria pronta para abandonar a Coréia do Norte, como se colocou ao lado dos Estados Unidos, Coréia do Sul e Japão.
Não quero fazer com isso apologia do regime nacionalista e ultradireitoso de Pyongyang, mas sim remarcar que o abandono da Coreia do Norte pela China se faz na base dos interesses econômicos da última, ficando claro na afirmação "As oportunidades de negócios para as empresas chinesas, acrescentou Chun, ajudaram a eliminar as inquietações de Pequim no seu convívio com a “nova Coréia”. Os interesses comerciais da China “estão centradas nos Estados Unidos, no Japão e na Coreia do Sul – não na Coreia do Norte”.
E termina por dizer que os testes nucleares da Coreia do Norte representariam uma ameaça à segurança mundial, na mesma linha do discurso norte-americano que justifica invasões.
Segundo a agência de notícias Efe o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Hong Lei, veio a público dizer que "[O país] sempre apoia que o Norte e o Sul da Península realizem diálogos para melhorar as relações, cooperem e conversem entre si para alcançarem uma reunificação pacífica". Sem mencionar o fato de que um dos telegramas divulgados citava dois funcionários do governo chinês que afirmavam que o seu país apoiaria a unificação da Coréia em torno de Seul.
A China, no seu movimento desesperado pela hegemonia econômica mundial pratica uma política externa tão predadora quanto a dos EUA; sapateia sobre suas relações regionais; mas mantém, "para inglês ver", o discurso "anti-ocidental" - isso para não falar de suas relações com África e Oriente Médio. Até quando?

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